19 Mar Como os Millennials e a Geração Z consomem fora de casa?
Mais exigentes, racionais e tecnológicos, os Millennials e a Geração Z valorizam mais a experiência, diversidade e a qualidade dos alimentos.
De que forma pode o setor da alimentação, corresponder às aceleradas expectativas destas duas gerações que, dentro de uma década, vão representar mais de metade do consumo mundial?
Estes jovens caracterizam-se por serem mais abertos, liberais, curiosos e tolerantes, com propensão a novas experiências. São otimistas e confiantes no futuro. Acreditam num mundo melhor, mais igualitário e com menos conflitos, no êxito do seu país e numa carreira profissional com bons reflexos financeiros. Estão sempre conectados e a aceder a múltiplas plataformas de informação, principalmente às redes sociais, e têm acesso a rankings, avaliações, feedback de amigos sobre produtos e serviços a serem consumidos.
Podemos afirmar que vieram revolucionar as empresas e as tendências de consumo. E em relação ao setor food service, como se comportam?
No FoodBiz 2019, Pedro Dionísio, professor do ISCTE, fez a apresentação de um estudo, realizado recentemente pelo IMR, sobre os “comportamentos e expectativas dos Millennials e Geração Z face ao consumo fora de casa”. Esta investigação baseou-se nas preferências dos jovens portugueses nascidos depois da década de 80 e nos que nasceram entre 1995 e 2012.
Mais de 50% destes jovens têm apps de reserva ou de restaurantes instalados, sendo que as mais usadas na última semana foram: a Mlovers, Telepizza e Uber Eats.
As redes sociais exercem uma forte influência nestas gerações, sendo que quase 50% são seguidores de um ou mais restaurantes e de personalidades que promovam estilo de vida mais saudável.
Adeptos do consumo fora de casa, nomeadamente à hora do almoço e aos fins-de-semana, mais de 80% têm tendência para diversificar de restaurante, porque procuram uma variação da ementa e uma variação do espaço físico. Fatores que estão relacionados com a valorização da experiência, velocidade e da gratificação instantânea: estas gerações querem acesso a produtos e serviços de forma rápida, fácil e conveniente.
Relativamente ao consumo em casa com compra fora, quase 80% vão buscar ao restaurante e apenas 23% recebem em casa. Facto que está relacionado com a conveniência e com a disponibilidade do serviço de entrega em alguns restaurantes.
A escolha das marcas é influenciada pelo propósito e pelo preço mais barato e os motivos que levam estes jovens a escolher determinados restaurantes em detrimento de outros estão relacionados essencialmente com a relação qualidade / quantidade / preço e com limpeza e higiene do local.
A saúde e o bem-estar são as razões que mais influenciam os hábitos alimentares destas duas gerações e ambos estão de acordo com a subida das taxas em produtos com excesso de sal, açúcar e refrigerantes. Dados que são o reflexo das preferências destes jovens, mais atentos à composição dos alimentos e que, por isso, terá um impacto cada vez maior na indústria do consumo e nos padrões alimentares, obrigando as marcas a adequar os seus produtos a este estilo de vida.
Os Millennials e a Geração Z têm uma perceção diferenciada face aos seus comportamentos atuais, os primeiros consideram que têm uma alimentação mais saudável do que o estilo de vida. Em contrapartida, os últimos consideram que o seu estilo de vida é mais saudável do que os hábitos alimentares, o que pode estar relacionado com a falta de tempo, tendo em conta que a maioria dos Millennials já se encontra a trabalhar.
Confrontados com as razões que os motivam a experimentar um novo conceito, ambas enumeraram o preço e um novo prato como principais fatores decisivos. Sendo que a Geração Z destacou também o entretenimento como agente importante na tomada de decisão, ao contrário dos Millennials, que demonstraram privilegiar um atendimento mais simpático.
A maioria destes jovens frequenta preferencialmente os restaurantes de rua e, em segundo lugar, os centros comerciais. No entanto, consideram que estes últimos não têm uma oferta ajustada a todos os momentos de consumo.
O estudo refere que estas gerações desejariam ter nos centros comerciais ofertas mais económicas, com mais variedade e qualidade, sendo que o único parâmetro real que se aproxima do desejável é a rapidez. Dentro deste conceito, também ambos mostram-se mais recetivos a espaços de comida baseados em tecnologia e ao ar livre, com preferência pelos serviços self-service, com o preço mais baixo. Contudo, os Millennials preferem restaurantes mais tradicionais, enquanto os da Z dão preferência ao conceito de fast food.
As duas gerações consideram que o atendimento é importante em todo o tipo de estabelecimentos, nomeadamente através da simpatia e competência, mas em relação às marcas mais consumidas, podemos observar que nenhuma se destaca por este critério.
Posto isto, estas duas gerações pensam três vezes antes de consumir, ou, pelo menos, têm autoconsciência disso e admitem que consultam e são influenciados por outros na hora de comprar.
Para Pedro Dionísio, o setor de food service em Portugal “tem de estar preparado, recorrendo à recolha de informação e ao apoio de especialistas, para conseguir acompanhar estas rápidas mudanças. Quem tem um modelo de negócio que não acompanha as alterações fica para trás e perde competitividade, porque estão sempre a aparecer novos conceitos, novas formas de comercialização e esta componente digital está a influenciar claramente em tudo, seja na compra fora de casa, através da pesquisa de informação ou da partilha de informação, seja através das entregas ao domicílio”, salientou o orador.
Também considerou que o FoodBiz 2019 “pode ajudar a despertar as empresas para as alterações”, mas advertiu “que atualmente não chega estar informado e que é preciso uma reflexão, um apoio e metodologia para inovar nestes domínios”.
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